O Brasil em todas as Copas!

Uruguai  - 1930

"Disputa entre paulistas e cariocas enfraquece a seleção na primeira Copa"

Na primeira Copa do Mundo, o Brasil nem de longe demonstrou que um dia seria a potência que é hoje no esporte. A seleção chegou ao Uruguai para a disputa do Mundial dividido e sem forças para lutar pelo título. A causa do racha era a briga entre paulistas e cariocas.

Capital do Brasil na época do Mundial, o Rio de Janeiro era o grande centro financeiro, social, cultural e artístico. Mas com a economia brasileira baseada no café, São Paulo crescia rapidamente e assumia o comando político do país.

A rivalidade crescente acabou se refletindo no futebol. A divergência entre a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), essencialmente carioca, não convidou membros da Associação Paulista de Esportes Atléticos (Apea) para tomar parte da comissão técnica que iria ao Uruguai. Em retaliação, a Apea não permitiu que clubes de São Paulo liberassem jogadores à seleção. Apenas o atacante Araken Patuska conseguiu ir à Copa porque estava brigado com o seu time, o Santos.

Sem poder contar com craques como Friedenreich, Feitiço e Del Debbio, a seleção brasileira fez uma campanha medíocre na primeira Copa do Mundo da história. Logo na primeira partida foi derrotada pela Iugoslávia por 2 a 1. Nesse jogo, o Brasil sofreu dois gols no primeiro tempo e, apesar de ter conseguido descontar na etapa final com Preguinho, não teve forças para obter a virada.

A rivalidade dentro do país era tanta que, ao saber da derrota dos "cariocas" para a seleção iugoslava, uma pequena multidão aglomerou-se em frente aos jornais paulistas para comemorar a provável desclassificação do Brasil no Mundial.

Quando entrou em campo para a segunda partida, diante da Bolívia, a seleção brasileira já estava eliminada da Copa do Mundo, porque três dias antes os iugoslavos haviam goleado os bolivianos. Assim, sem compromisso, o Brasil conseguiu a sua primeira vitória na história do Mundial: 4 a 0, com dois gols de Moderato e outros dois de Preguinho.

Além da divisão entre Rio e São Paulo, a falta de experiência internacional e o rigoroso inverno uruguaio também foram apontados como causas do mau desempenho do Brasil. A famosa "tremedeira" de alguns jogadores diante dos zagueiros iugoslavos também foi imensamente divulgada na época da desclassificação precoce.

Além disso, ficou evidente a falta de preparação física dos brasileiros, que piorou graças à desgastante viagem de 15 dias de navio a Montevidéu, no Uruguai. Durante a curta estadia da seleção no Mundial, um jogador destacou-se: o volante Fausto, do Vasco, que ganhou o apelido de "Maravilha Negra" pelo futebol elegante apresentado.

Escalação do Brasil:

Joel  (América RJ)
Itália  (Vasco)
Hermógenes  (América RJ)
Brilhante  (Vasco)
Poly  (Americano RJ)
Fausto  (Flamengo)
Fernando  (Fluminense)
Nilo  (Botafogo)
Araken Patuska  (Santos) 
Teóphilo   (Fluminense)
Preguinho  (Fluminense)

Jogos do Brasil:

 Iugoslávia 2x1 Brasil  1ª Fase

 Brasil 4x0 Bolívia   1ª Fase


Itália - 1934

"Outra vez dividido, Brasil repete decepção e fiasco na disputa do Mundial"

O Brasil parece não ter aprendido com os erros da Copa de 1930, no Uruguai. Quatro anos mais tarde, na Itália, os problemas e o resultado foram os mesmos: elenco desfalcado pela briga entre paulistas e cariocas e eliminação logo na primeira fase.

Em sua mais breve campanha em Copas do Mundo, o Brasil viajou 15 dias de navio até a Europa e viu o sonho de conquistar o título se desfazer em apenas 90 minutos de bola rolando, com uma derrota incontestável para a forte seleção espanhola.

Dessa vez, a divisão foi entre profissionais e amadores. A CBD (Confederação Brasileira de Desportos) condenava o profissionalismo, já instalado em São Paulo. Para tentar convencer alguns profissionais, a CBD ofereceu pequenas fortunas em dinheiro pela participação no Mundial.

O amadorismo era tamanho que, no papel, Luís Vinhais era o treinador, mas quem exercia o cargo era Carlito Rocha. Inscrito como árbitro, Rocha não poderia, oficialmente, comandar a equipe do banco de reservas e, dessa forma, acompanhava as partidas como delegado do grupo brasileiro.

Na Itália, apenas um treino antes da partida contra os espanhóis foi realizado. Durante a viagem, os 15 dias no navio engordaram muitos jogadores, que não tiveram tempo para recuperar a forma física.

Pouco inspirado e sem mobilidade, o Brasil sucumbiu. Aos 30min de jogo, a seleção brasileira já perdia por 2 a 0, ambos os gols marcados por Iraragorri.

Quando a partida ainda estava apenas no 1 a 0 para os espanhóis, aos 17min, Waldemar de Brito cobrou pênalti defendido pelo fora-de-série Zamora, destaque entre os goleiros da primeira metade do século 20.

A defesa de Zamora, além de impedir o empate do Brasil, abalou o ânimo dos jogadores brasileiros e deu inspiração para que a Espanha aumentasse a vantagem. No fim do primeiro tempo, o Brasil era derrotado 3 a 0 - Langara havia marcado o terceiro.

Aos 27min da etapa final, Leônidas da Silva começou a escrever seu nome na história ao marcar o único gol da seleção brasileira. A derrota eliminou o Brasil logo na estreia, impondo ao país a sua pior campanha em Copas do Mundo.

Escalação do Brasil:

Pedrosa  (Botafogo)
Luiz Luz  (Grêmio)
Martim  (Botafogo)
Sylvio Hoffman  (São Paulo)
Tinoco  (Vasco)
Canalli  (Botafogo)
Armandinho  (Santos)
Luisinho  (São Paulo)
Patesko  (Nacional-Uru) 
Waldemar de Britto   (São Paulo)
Leônidas da Silva  (Vasco)

Jogos do Brasil:

 Espanha 3x1 Brasil  Oitavas


França - 1938

"Organizada pela primeira vez, seleção faz boa campanha e vai longe na Copa"

Na última Copa antes da Segunda Guerra Mundial, o Brasil, pela primeira vez na história, conseguiu ir além das rodadas iniciais. Confiante, talvez até em demasia, a seleção ficou próxima do título. Foi o Mundial dos europeus, com apenas três seleções de fora do continente: Cuba, Índias Holandesas e Brasil. Por aqui, era a época áurea do rádio, com direito a transmissões de boletins do torneio na França.

Mais organizado e sem desfalques por brigas bairristas, a seleção estreou com vitória por 6 a 5 sobre a Polônia, na prorrogação. Leônidas travou um duelo particular com o atacante polonês Willimowski. No final do jogo, o europeu havia marcado quatro gols, um a mais que o brasileiro.

Nas quartas de final, o Brasil precisou de 210 minutos para passar pela Tchecoslováquia, que contava ainda com o artilheiro da Copa anterior, Oldrich Nejedly, e o lendário goleiro Planicka. A primeira partida terminou empatada em 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação, e foi necessário um jogo extra para determinar o semifinalista.

Devido à violência do encontro anterior, brasileiros e tchecos entraram em campo 48 horas depois bastante desfalcados. Com uma equipe reserva reforçada pelo "Diamante Negro", o Brasil venceu de virada, por 2 a 1, com gols de Leônidas e Roberto.

Na semifinal, o Brasil encontrou pela frente a Itália. O feriado de Corpus Christi no país favoreceu o acompanhamento da partida por milhares de torcedores, ligados na transmissão de rádio feita por Gagliano Netto, o único locutor brasileiro presente ao Mundial.

Para aqueles que acompanharam a partida, os brasileiros teriam menosprezado o adversário. Além disso, em decisão controversa, o técnico Ademar Pimenta optou por deixar Leônidas no banco de reservas, alegando uma contusão, quando o atacante teria condições de atuar.

Logo no início do segundo tempo, aos 10min, Colaussi abriu o placar para os italianos. Cinco minutos depois, o árbitro suíço Hans Wuthrich acertadamente marcou pênalti de Domingos da Guia sobre o atacante Piola numa falta fora do lance. Apesar dos protestos, Giuseppe Meazza cobrou com perfeição e ampliou a vantagem italiana. No fim do jogo, aos 42min, Romeu ainda descontou para o Brasil, mas já era tarde.

No entanto, restou ao Brasil a disputa pelo terceiro lugar, contra a Suécia. Com Leônidas em campo, a seleção venceu por 4 a 2 e encerrou de forma honrosa a sua melhor participação em Copas até então.

Escalação do Brasil:

Walter  (Flamengo)
Machado  (Fluminense)
Brandão  (Corinthians)
Domingos da Guia  (Flamengo)
Afonsinho  (São Cristóvão RJ)
Patesko  (Botafogo)
Roberto  (São Cristóvão RJ)
Perácio  (Botafogo)
Romeu  (Fluminense) 
Zezé Procópio   (Botafogo)
Leônidas da Silva  (Flamengo)

Jogos do Brasil:

 Brasil 6x5 Polônia Oitavas

 Brasil 1x1 Tchecoslováquia Quartas

 Brasil 2x1 Tchecoslováquia Quartas (Desempate)

 Brasil 1x2 Itália Semifinal

 Brasil 4x2 Suécia 3º Lugar


Brasil - 1950

"Seleção brasileira encara desastre do Maracanazo e marca toda uma geração"

O Brasil tinha certeza de que seria campeão do mundo. Ela estava nas ruas, nas casas, nos bares. Estava na mente de cada torcedor. Estava nos dirigentes, na comissão técnica, nos jogadores. Só não estava na garra de Obdúlio Varela e nos chutes certeiros de Schiaffino e Ghiggia.

A confiança no título nascera quatro anos antes, quando foi definido que o Brasil seria a sede do Mundial. Para isso, os dirigentes resolveram erguer no Rio de Janeiro o estádio do Maracanã, o maior do mundo, palco perfeito para a conquista histórica.

E foi no Maracanã, no dia 25 de junho, que a seleção brasileira fez a sua estreia - o México não ofereceu resistência e foi derrotado por 4 a 0. No dia 28, o Brasil enfrentou a Suíça no Pacaembu, em São Paulo. Para agradar a torcida paulista, o técnico Flávio Costa trocou todo o meio-campo. A seleção jogou mal, empatou em 2 a 2 e saiu de campo vaiada.

O resultado deixou o Brasil em situação complicada no Grupo 1. Para avançar ao quadrangular final, a seleção precisaria vencer a Iugoslávia, que vinha de duas vitórias (3 a 0 na Suíça e 4 a 1 no México). O jogo aconteceu no Maracanã, no dia 1º de julho. Mais de 140 mil pessoas viram o Brasil ganhar por 2 a 0 e se classificar para a fase final.

As quatro equipes finalistas tiveram uma semana de descanso. O primeiro adversário do Brasil no quadrangular foi a Suécia, no Maracanã. Em tarde inspiradíssima de Ademir, autor de quatro gols, o Brasil goleou os suecos por 7 a 1.

Quatro dias depois, 150 mil pessoas foram ao Maracanã assistir ao duelo com a Espanha, que na primeira rodada do quadrangular havia empatado em 2 a 2 com o Uruguai. O Brasil começou arrasador e, após 31 minutos, já vencia por 3 a 0, com um gol de Ademir e dois de Chico.

No segundo tempo, mais massacre. Ademir e Zizinho (duas vezes) marcaram para o Brasil, enquanto Igoa descontou para a Espanha. O 6 a 1 foi completado pela enlouquecida torcida, que cantou em coro a marcha carnavalesca "Touradas em Madri", de Alberto Ribeiro e Braguinha.

E o Brasil só não foi campeão por antecipação porque o Uruguai derrotou a Suécia por 3 a 2, de virada, com dois gols marcados nos últimos 15 minutos. Foi nesse clima de "já ganhou" que mais de 200 mil pessoas foram ao estádio do Maracanã na tarde de 16 de julho.

O Brasil precisava só do empate para ficar com o título e partiu com tudo para cima da seleção uruguaia. O primeiro tempo ficou no 0 a 0. No segundo, a certeza do título aumentou após o gol do brasileiro Friaça, aos 2min.

Entretanto, o que era para ser o começo da festa se transformou no princípio da tragédia. O Brasil partiu ainda mais para o ataque e deixou a defesa desguarnecida. Aos 21min, Ghiggia bateu Bigode na corrida e tocou para Schiaffino empatar a partida.

Animado com o gol, o Uruguai se lançou ao ataque e conseguiu o que parecia impossível: derrotar o Brasil. Aos 34min, Ghiggia superou novamente Bigode e entrou na área para chutar à esquerda de Barbosa. O goleiro do Vasco saltou, mas não conseguiu agarrar a bola, que morreu no fundo da rede.

O gol acabou com a empolgação da torcida brasileira, que viu o Uruguai segurar o jogo nos minutos restantes para ficar com o título de campeão mundial pela segunda vez. O episódio entrou para a história como "Maracanazo", uma das maiores zebras de todos os tempos.

Escalação do Brasil:

Barbosa  (Vasco)
Juvenal  (Flamengo)
Bauer  (São Paulo)
Augusto  (Vasco)
Friaça  (São Paulo)
Bigode  (Flamengo)
Danilo Alvim  (Vasco)
Chico  (Vasco)
Jair Rosa Pinto  (Palmeiras) 
Zizinho   (Bangu)
Ademir Menezes  (Vasco)

Jogos do Brasil:

 Brasil 4x0 México 1ª Fase

 Brasil 2x2 Suíça 1ª Fase

 Brasil 2x0 Iugoslávia 1ª Fase

 Brasil 7x1 Suécia Fase Final - Quartas

 Brasil 6x1 Espanha Fase Final - Semifinal

 Brasil 1x2 Uruguai Final