domingo, 13 de abril de 2014

Jogos Eternos – Argentina 2×1 Inglaterra 1986

A Rivalidade contra os Ingleses e a Genialidade de Maradona.


Maradona foi o Protagonista de uma Argentina incontestável em seu Bicampeonato Mundial.

Data: 22 de junho de 1986
O que estava em jogo: uma vaga na semifinal da Copa do Mundo da FIFA de 1986.
Local: Estádio Azteca, Cidade do México, México.
Juiz: Ali Bennaceur (TUN)
Público: 114.580 pessoas

Os Times:

Argentina: Pumpido; Cuciuffo, Brown, Ruggeri e Olarticoechea; Batista, Giusti, Enrique e Burruchaga (Tapia 30´do 2º T); Maradona e Valando. Técnico: Carlos Bilardo.

Inglaterra: Shilton; Stevens, Butcher, Sansom e Reid (Waddle 19´do 2º T); Fenwick, Steven (Barnes 29´do 2o T) e Hoddle; Hodge, Lineker e Beardsley . Técnico: Bobby Robson.

Placar: Argentina 2×1 Inglaterra (Gols: Maradona-ARG, aos 6´ e aos 10´, Lineker-ING, aos 36´do 2º T).



No futebol, a rixa começou em 1966 após um conturbado duelo entre os dois países na Copa daquele ano.

Não bastasse a rivalidade histórica entre argentinos e ingleses existir por causa das Malvinas, a rixa entre ambos também era visível no futebol desde 1966, na Copa do Mundo realizada na terra da Rainha. Naquele ano, as duas seleções se enfrentaram num duelo quente pelas quartas de final que terminou com várias faltas duras e a polêmica expulsão do argentino Rattín, que cansou os ouvidos do árbitro alemão Rudolf Kreitlein com palavrões e impropérios e demorou uma barbaridade para sair do gramado por exigir um tradutor em campo, a fim de entender o porquê de sua expulsão. 

Na saída do gramado, o jogador ainda zombou da bandeira inglesa no escanteio e sentou no tapete vermelho exclusivo da Rainha. A partir dali, os ingleses sempre trataram os argentinos como “animais” e “selvagens”, com a recíproca de “racistas” e “ladrões” dos argentinos. Na Copa de 1986, as seleções chegavam às quartas de final em situações opostas. A Argentina vinha de boas partidas e sem sustos na primeira fase com vitórias sobre Coreia do Sul (3x1) e Bulgária (2x0) e empate em (1x1) contra a então campeã Itália. Nas oitavas de final, os alvicelestes bateram o rival Uruguai por (1x0) e se garantiram entre os oito melhores do Mundial.



Os capitães Maradona e Shilton.

Já a Inglaterra começou com o pé esquerdo ao ser derrotada por 1 a 0 para Portugal e empatar sem gols contra o Marrocos. Só na última e decisiva partida da fase de grupos que os ingleses conheceram o sabor da vitória graças ao talento de Gary Lineker, que marcou os três gols do triunfo sobre a Polônia por (3x0). Nas oitavas de final, Lineker foi mais uma vez decisivo e marcou dois gols na vitória por (3x0) sobre o Paraguai. Com o choque confirmado entre argentinos e ingleses, a comissão organizadora da Copa e o governo mexicano trataram de reforçar a segurança do estádio Azteca antes, durante e depois do jogo. Dezenas de militares foram escalados para garantir a proteção dos mais de 110 mil torcedores dentro e fora do estádio. O duelo dominava as manchetes dos jornais argentinos e britânicos há uma semana e a gana pela vitória era maior, claro, do lado sul-americano, afinal, o jogo era o primeiro contra os ingleses desde a fatídica guerra e os nacionalistas viam como oportunidade única a revanche diante dos europeus. Por tudo isso, é de se imaginar o estado de espírito que a Argentina entrou em campo. Principalmente o craque do time: Maradona.



Já no 1º Tempo Maradona mostra que
 é ele quem manda em campo nas bolas paradas.

Com os times perfilados em campo para a execução dos hinos, era visível a concentração do camisa 10 e seu olhar de repulsa aos ingleses. O baixinho levava consigo a necessidade e o fervor de derrotar aqueles “branquelos” e continuar seu projeto de ser campeão do mundo e mostrar de uma vez por todas que ele era o melhor jogador do planeta na época. Só uma atuação de gala e uma vitória poderiam ajudar Maradona em tudo aquilo. E ele estava mais do que pronto para a partida de sua vida.



Para impedir Maradona de avançar em direção ao gol, só com falta.

Embora o clima fosse de tensão e também de beleza pelo público contagiante no ensolarado Azteca, os jogadores começaram a partida sem faltas ríspidas ou provocações, com a Argentina mantendo a posse de bola e dominando as ações iniciais. Maradona iniciou suas jogadas de efeito e velocidade aos nove minutos, quando passou por dois marcadores e só não passou pelo terceiro, Fenwick, porque este fez falta e foi advertido com um cartão amarelo logo de cara. Nos minutos seguintes, Beardsley teve duas chances para marcar, mas Pumpido se saiu bem em ambas. Aos poucos, o craque e capitão argentino mostrava seu talento fora de série ao construir jogadas mesmo sendo marcado sempre por dois ingleses. Rápido, esguio e no auge da forma, Maradona era um virtuose com a bola nos pés e só era impedido de alcançar seus objetivos com faltas, que começaram a pipocar perto da área inglesa. E foi em uma cobrança de falta que o camisa 10 quase abriu o placar, mas a bola passou rente a trave esquerda de Shilton. 

Sedento pelo gol e pelo protagonismo da partida, Maradona ainda chamou a atenção de todos por causa de um desentendimento com o bandeirinha em uma cobrança de escanteio, aos 34´. Antes de partir para o chute, o argentino tirou a bandeirinha do buraco e foi repreendido pelo bandeira costarriquenho. Maradona foi obrigado a colocar o mastro no lugar e o fez. No entanto, faltava a flâmula, que continuava caída no chão. Após nova bronca, o camisa 10 pegou o pano e o colocou do jeito que deu no mastro. Resolvido o “problema”, o jogo seguiu, a tal cobrança não levou perigo aos ingleses e o primeiro tempo terminou mesmo sem gols. Mas ainda restavam 45 minutos.



Segundo tempo – A mão e a obra-prima. Contra imagens não há argumentos: la mano en su trabajo.

Se durante 45 minutos a Argentina não conseguiu balançar as redes inglesas, foram necessários apenas dez minutos para que o placar do estádio Azteca mostrasse 2 a 0 para os alvicelestes. Mas os números eram apenas simbólicos pelo que o público – e o mundo – tinha acabado de ver. Aos seis minutos, Maradona recebeu na esquerda, passou pelo primeiro, se enfiou no meio de dois e deixou na entrada da área para Valdano. O atacante tentou a devolução, mas o inglês Fenwick interceptou e chutou a bola para o alto. No entanto, a redonda foi ao encontro do goleiro Shilton, grandalhão, que viu a chegada de Maradona. 

Com, 1,83m, o camisa 1 nem pulou muito diante dos 1,65m de Maradona. Mas o argentino usou de um artifício bem peculiar para empurrar a bola para dentro do gol: o punho fechado e forte que socou a bola de uma maneira única que não deixou o árbitro tunisiano Ali Bennaceur, quatro metros fora da área, perceber o truque. Maradona saiu comemorando timidamente e de olho no juiz. 



O delírio de Maradona e o nada amigável público inglês ao fundo.

Ele percebeu que ninguém de seu time veio ao seu encontro e chamou os colegas: “Vamos, me abracem, ou o árbitro não vai validar o gol!”. De nada adiantou a reclamação dos ingleses. Nem os berros e pulos de Shilton. Era gol. O gol com um pouco da cabeça de Maradona e outro pouco com “La mano de Dios”, como ficou amplamente conhecido aquele tento argentino. Indo de volta para seu campo, o camisa 10 erguia com orgulho a mão fechada que havia acabado de fazer história.



Maradona arranca...

Os ânimos ingleses ficaram mais exaltados após o polêmico gol e a partida tinha tudo para ficar emocionante. Mas Maradona não iria deixar os ingleses gostarem do jogo ou marcar um gol de empate. Ele precisava marcar mais um para não deixar dúvidas naquele público que olhava para ele meio ressabiado como quem diz “pô, de mão até eu faço!”. Com pouco mais de nove minutos do segundo tempo, o camisa 10 iniciou o lance que não teria ajudinha divina alguma. 



Dribla meio time da Inglaterra...

Apenas o talento e genialidade do baixinho. Ainda uns cinco metros dentro do campo argentino, Maradona deu um rápido giro de corpo e se livrou de uma só vez de Reid e Beardsley. Com um ligeiro toque, a bola correu e Maradona foi atrás como um foguete em direção à área inglesa. No meio do caminho, Butcher foi despistado com facilidade, Fenwick ficou para trás com um corte cruel e o argentino chegou à área inglesa. Nela, Shilton foi driblado, Fenwick ainda tentou um carrinho, mas Maradona tocou para o gol antes de ser derrubado. 



E faz aquele que seria o Gol Antológico de todas as Copas...

Gol. Golaço. Obra de arte. Fascínio puro pela arte.  Em apenas 10 segundos, Maradona percorreu 60 metros e construiu seu mais belo e estupendo gol. Mas os 10 segundos pareceram bem menos de tão exuberante que foi a jogada. O relógio deveria parar. O público deveria pagar ingresso novamente. Os ingleses deveriam aplaudir. Era o gol da Copa. E das Copas. Ninguém, sozinho, jamais havia feito semelhante beleza. Nem Pelé. Nem Gerd Müller. Nem Cruyff. Nem Garrincha. O gol do século das Copas era de Diego Armando Maradona.





O fato é que a batalha futebolística de 22 de junho de 1986 foi vencida pelos sul-americanos, que fizeram justiça com os próprios pés, uma mão divina e um Dios dentro de campo: Maradona, eterno como aquele jogo.

Com (2x0) no placar, a Argentina passou a jogar com mais precaução na defesa e a Inglaterra dominou as ações ofensivas. Na base do chuveirinho, bolas e mais bolas eram alçadas na área portenha, mas Pumpido ou os zagueiros sempre cortavam. Hoddle cobrou uma falta perigosa que exigiu ótima defesa do goleiro argentino. Aos 31´, o técnico Bobby Robson colocou a Inglaterra totalmente no ataque ao trocar Steven pelo jovem e habilidoso Barnes. 

O ponta rapidamente mostrou a que veio e, aos 36´, fez uma boa jogada pela esquerda e cruzou na medida para Lineker diminuir a desvantagem e anotar seu sexto gol na Copa, além de aparecer pela primeira vez no jogo depois de ser marcado de maneira implacável e impecável pela zaga argentina. Faltavam quase dez minutos para o fim do jogo e era hora do tudo ou nada. Logo na saída de bola, Maradona tratou de aparecer de novo ao entortar mais alguns ingleses com seus toques rápidos e deixar Tapia com uma ótima oportunidade para marcar. No chute, o atacante acertou a trave direita de Shilton e por pouco não ampliou para (3x1). 

No finalzinho, Barnes, sempre pela esquerda, tentou repetir a jogada do primeiro gol e cruzou na medida para Lineker, que só não marcou o gol de empate porque Brown cortou milésimos de segundos antes da chegada do camisa 10 inglês. Aquela seria a última chance inglesa. Com o apito final do árbitro, a Argentina estava classificada. E vingada, na bola, do desastre bélico de quatro anos atrás. Em entrevista ao The Guardian, em 2002, o célebre jogador argentino Roberto Perfumo definiu bem a razão de vencer a Inglaterra para os argentinos:

“Em 1986, vencer aquele jogo contra a Inglaterra era o suficiente. Vencer a Copa do Mundo era secundário para nós. Bater a Inglaterra era nosso verdadeiro objetivo”. – Roberto Perfumo, em entrevista ao The Guardian, maio de 2002."

(Fontes do Site Imortais do Futebol)