terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Copa do Mundo 2014 - Semifinal: Holanda 0x0 Argentina


Messi e Sneijder disputam lance acirrado; argentino teve sua pior atuação nesta Copa

Holanda e Argentina fizeram um jogo com cara de semi-final de Copa: jogo pegado, com ambos os times muito cautelosos, sem se expor e, consequentemente, meio chato. Chatice compensada pela emoção. Aos 45 do segundo tempo, no final de um jogo de poucas oportunidades criadas e desperdiçadas por atacantes nervosos ou abafadas por defesas excelentes, aconteceu aquilo que todos já esperavam: Robben recebe a bola nas costas de Mascherano, se livra da marcação de Demichelis, entra na área, prepara para chutar com seu pé esquerdo e… Mascherano trava seu chute fatal em cima da hora.


Messi cobra falta sem exito contra Holanda pelas semifinais da Copa

Na seleção da Argentina que tem um Messi sempre cercado por pelo menos 3 marcadores, que tem um Di María contundido (ainda é dúvida para a final) e um Higuain apagado, Mascherano tem sido o seu maior símbolo. Esta jogada contra o Robben é um ótimo exemplo: mesmo com abaixa probabilidade de alcançar um dos jogadores mais rápidos desta Copa, que já partiu para o gol nas suas costas, o “chefito” argentino não pensou duas vezes e correu. Correu mais ainda quando Demichelis (que vinha fazendo uma partida perfeita) foi driblado por Robben. E quando tudo parecia perdido, se esticou tanto que rasgou o ânus (palavras dele) e se recusou a tomar um gol da Holanda. Além da dedicação defensiva, ele também tem feito de forma discreta uma Copa praticamente perfeita no meio de campo, sendo o principal passador de bolas na sua seleção.


Cillessen não consegue defender a cobrança de Messi e Holanda não vai à Final

Parecia que Van Gaal ainda via esperança de liquidar o jogo na prorrogação e fez sua última alteração para substituir o exausto Van Persie por Huntelaar no ataque. Mas de nada adiantou. E por causa desta substituição, ele não pôde colocar Krul no lugar de Cillessen. E para seu desespero, ele tinha razão em querer fazer esta troca: Cillessen não conseguiu pegar nenhum pênalti.


Wesley Sneijder bate bem a meia altura, mas o dia era de Goycochea que já havia defendido a 1ª cobrança de Ron Vlaar; Adeus Laranja...

Em compensação, o criticadíssimo Romero (que amargou a reserva no seu time, o Mônaco, durante esta temporada) pegou 2, repetindo o feito do goleiro Goycochea na semi-final de 1990, e colocando a Argentina novamente em uma final de Copa, depois de 24 anos. Novamente contra a Alemanha.

Os Argentinos dizem que “o espírito de Goycochea desceu em Romero” (conceito difícil de entender, ainda mais considerando que Goycochea ainda está vivo – inclusive estava no estádio assistindo ao jogo), mas Van Gaal tem outra explicação para o sucesso de Romero. Van Gaal disse: “Eu ensinei o Romero a pegar pênaltis, então, isso dói!“. Romero foi treinado pelo holandês na temporada 2007-08, no AZ, time campeão holandês naquela temporada.


Torcedores Argentinos e Holandeses animados e confiantes; no final só os Hermanos riram...

Em 2014 eles chegam novamente à final, com um time limitado, com uma campanha fraca, vencendo seus jogos sempre no limite. Mais uma vez para enfrentar a favoritíssima Alemanha, que vem com uma campanha muito melhor e com a confiança reforçada pela sacolada que eles enfiaram nos anfitriões.

Mas, assim como em 1990, a Argentina vai para a final acreditando que o seu camisa 10 vai fazer algo absolutamente fantástico e “A Messi lo vas a ver / la Copa nos va a traer“.


Data: 9 de julho de 2014
Horário: 17h00 (de Brasília)
Local: Itaquerão, em São Paulo (SP)
Capacidade do estádio: 62.601
Público: 63.267
Árbitro: Cuneyt Cakir (TUR)
Assistentes:  Bahattin Duran (TUR) e Tarik Ongun (TUR)
Cartões amarelos: Martins Indi, aos 43 min. do 1°t, 
Huntelaar, aos 15 min. do 1°t da pror (HOL); 
Demichelis, aos 3 min. do 2°t (ARG)

Copa do Mundo 2014: Decisão do 3º Lugar


Mal começou a partida e Robin Van Persie achou um buraco na defesa brasileira para marcar o primeiro da Seleção Holandesa

O Brasil, que contava com o desinteresse holandês no jogo para sair de “cabeça erguida” da Copa, mostrou as mesmas fragilidades que já havia mostrado contra a Alemanha. Van Gaal usou a mesma tática que Joachim Löw: pressionou a defesa brasileira e tomou o meio de campo, cortando completamente a ligação com o ataque. 

Apesar do controle holandês no jogo, a seleção brasileira não se entregou completamente (como fez no jogo contra a Alemanha) mas a superioridade holandesa era clara: quando o Brasil chegava no ataque dependia exclusivamente do acerto de alguma jogada individual para conseguir um chute a gol. Já a Holanda, chegava sempre com perigo, tocando bola e com bons cruzamentos.


Brasil deixa Copa do Mundo com derrota de 3x0 para Holanda

Do lado da Holanda ficou a sensação de frustração. Ao final do jogo Robben e Van Gaal deram entrevistas valorizando o terceiro lugar, mas deixando claro que eles esperavam jogar a final. E mostraram qualidade para isso em campo. A Holanda deixa o campeonato sem ter perdido nenhum jogo e após ter protagonizado grandes jogos, como o massacre contra a Espanha, a enorme superação contra o México e o incrível bombardeio ao gol da Costa Rica, mas tudo terminou em um jogo equilibradíssimo contra a Argentina. Fica a sensação de que faltou força física, faltou sorte, faltou muito pouco para forçar um gol naquela prorrogação…


Van Gaal 'Nada do que ele faz é por acaso'

Olhando para o futuro, Van Gaal deixa a seleção holandesa com um time majoritariamente jovem, que estará à disposição para disputar a próxima Copa, mas com um problema enorme: seus jogadores extraordinários (Sneijder, Robben e Van Persie) estão todos na casa dos 30 anos e dificilmente terão condições físicas para jogar a Copa de 2018. 

O trabalho foi bem feito, mas agora eles dependem do acaso para que apareça um conjunto de jogadores extraordinários para sucedê-los na liderança do time. É o fim de mais uma geração extraordinária que não consegue vencer o título tão cobiçado pelos holandeses há tanto tempo.


Brasil perde de 3x0 para Holanda na disputa de 3º lugar e sai de campo vaiado

Parecia que o pesadelo da semi-final não terminava nunca para o Brasil. Mas terminou. Foi um atropelo tão grande ter tomado 10 gols e 2 jogos que nem dá para pensar em comemorar o fato de que o Brasil chegou entre os 4 primeiros times da competição após 12 anos.

Se a disputa de terceiro lugar é amargo, perder este jogo é mais amargo ainda. A Holanda vai embora sem ter perdido nenhum jogo na competição. O Brasil vai embora com 2 derrotas seguidas e fica com a defesa mais vazada de sua história.


Data: 12/07/2014 – 17h
Local: Mané Garrincha (Brasília)
Capacidade do estádio: 69.349
Público: 68.034
Árbitro: Djamel Haimoudi (ALG)
Auxiliares: Redouane Achik (MAR) e Abdelhak Etchiali (ALG)
Cartões amarelos: Thiago Silva, Fernandinho e Oscar 
(Brasil); Robben e De Guzmán (Holanda)
Gols: Van Persie, aos 2 min, e Blind aos 15 min do 1º tempo; 
Wijnaldum aos 45 min do 2º tempo


Copa de 2014 - Final: Alemanha 1x0 Argentina


"Primeiro Tempo"

Higuaín marca logo no início; Porém Arbitragem anularia o gol alegando impedimento do atacante argentino.

A Alemanha teve mais posse de bola nos primeiros minutos, mas quem deu o primeiro chute a gol foi a Argentina. Em contra-ataque rápido, Higuaín invadiu a área pela direita e bateu cruzado, dando um susto no goleiro Neuer. Jogando fechada na defesa, a seleção sul-americana apostava sempre nos contra-ataques pela direita, nas costas de Höwedes.

Aos 20 minutos, Kroos falhou feio na defesa e criou uma chance clara de gol para os sul-americanos. O alemão cabeceou a bola para trás e colocou Higuaín na cara do gol. Na frente de Neuer, o camisa 9 argentino bateu muito mal, desperdiçando grande oportunidade de abrir o placar.

Os alemães continuavam a tocar a bola na frente de área argentina, mas não conseguiam furar a retranca armada por Sabella. Enquanto isso, os sul-americanos seguiam levando perigo nos contra-golpes. Aos 30 minutos, Lavezzi recebeu livre pela direita e cruzou na medida para Higuaín. O centroavante bateu de primeira para o gol, mas o bandeirinha marcou impedimento no lance, anulando o gol acertadamente.


O craque da Argentina, Messi, para no goleiro Nauer

Joachim Loew teve que fazer uma mudança ainda no primeiro tempo. Kramer sofreu uma pancada na cabeça e deu lugar a Schürrle. Aos 36, primeira grande chance alemã. Müller arrancou pela esquerda e tocou no meio para o camisa 9, que bateu de primeira e obrigou Romero a fazer grande defesa.

Messi criou mais uma boa jogada aos 39. Sempre pela direita, nas costas de Höwedes, ele arrancou com a bola dominada, invadiu a área e tocou para trás na saída de Neuer. A defesa alemã chegou para cortar e impedir o gol. Aos 42, Kroos recebeu boa bola na entrada da área, mas bateu fraco e facilitou a defesa de Romero. Três minutos depois, Höwedes subiu bem após cobrança de escanteio e cabeceou na trave. Foi o último lance de perigo antes do intervalo.


"Segundo Tempo"

Por um triz a Argentina não abriu o placar

Os sul-americanos voltaram melhor do intervalo, avançando a marcação e ficando mais com a bola nos pés. Sabella também fez mudanças no time, colocando Aguero no lugar de Lavezzi. Logo na marca de 1 minuto, Messi quase abriu o placar. Ele recebeu grande passe pela esquerda e, já dentro da área, bateu cruzado, mandando a bola muito perto da trave de Neuer.

Aos poucos a Alemanha foi recuperando o domínio de jogo, mas ainda sem chegar com perigo ao gol de Romero. Os europeus tocavam a bola em volta da área, mas os sul-americanos bem fechados não permitiam a finalização.


Messi foi bem marcado e mesmo assim quase decidiu o jogo em favor da Argentina

Aos 29 minutos, Messi voltou a dar trabalho para a defesa alemã. O craque do Barcelona dominou a bola na direita, carregou para o meio e bateu de esquerda, mas a bola saiu à direita de Neuer. Pouco depois, Higuaín foi substituído pelo também atacante Palacio.

Mais presentes no ataque, os alemães chegaram com perigo aos 36. Özil fez boa jogada pela direita, puxou para o pé esquerdo e rolou na medida para Kroos. Na entrada da área, o camisa 18 pegou muito mal na bola, chutando sem força e para fora.

Faltando 5 minutos para o fim do segundo tempo, a Argentina fez sua última alteração. Saiu Perez para a entrada do volante Gago. O técnico Loew também mexeu na Alemanha. Klöse deu lugar a Götze. Visivelmente cansados e já pensando na prorrogação, as duas equipes não se arriscaram nos minutos finais, mantendo o 0 x 0 no placar até o apito do árbitro.


"Prorrogação"

Argentina vai a nocaute pós o Gol de Gotze; Não haveria mais tempo para uma inesperada reação

A seleção alemã partiu com tudo para cima dos argentinos na prorrogação, levando perigo e deixando mais espaço para os argentinos. Logo no primeiro minuto Schürrle obrigou Romero a fazer importante defesa após jogada tramada pela esquerda. Aos 6 minutos, foi Palacio quem assustou. Ele recebeu lançamento nas costas da defesa, matou no peito e tentou tocar por cima de Neuer, mas jogou para fora.

Aos 7 minutos do segundo tempo da prorrogação, a Alemanha colocou a mão na taça graças a dois jogadores que começaram no banco de reservas. Schürrle arrancou pela esquerda e cruzou na medida para Götze. O camisa 19 matou bonito no peito e chutou antes de a bola cair para abrir o placar e colocar os europeus na frente. O segundo gol do alemão na Copa foi também o mais importante de toda a campanha.

No desespero, os argentinos começaram a jogar a bola na área tentando empatar. Mas faltava pouco tempo e os altos defensores alemães afastaram o perigo com segurança. Festa da torcida alemã no Maracanã, tetracampeã do mundo de futebol.


Seleção Alemã comemora merecidamente a conquista da Copa em solo brasileiro

Como era de se esperar, a final teve um placar magro, com os jogadores cumprindo bem suas funções táticas. Mas mesmo assim, foi um grande jogo. Taticamente perfeito, com boas chances de gol, mas, sempre tenso, como uma final deve ser.

O título alemão faz justiça a uma geração de grandes jogadores que começam a se despedir da seleção alemã: Lahm, Schweinsteiger e Podolski são os principais nomes da equipe que começou a ser formada na Euro 2004 e na Copa de 2006 para aposentar os sobreviventes de 2002 (dos quais apenas Klose, já aos 36 anos, continuou a jogar na seleção – em grande estilo, deixando seu nome na história como o maior artilheiro de todas as Copas).


Data: 13 de julho de 2014
Horário: 16h00 (de Brasília)
Local: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Capacidade do estádio: 74.738
Público: 74.738
Árbitro: Nicola Rizzoli (ITA)
Assistentes: Renato Faverani (ITA) e Andrea Stefani (ITA)
Cartões amarelos: Schweinsteiger, aos 28 min., 
Höwedes, aos 32 min. do 1°t (ALE); Mascherano, aos 18 min., 
Agüero, aos 20 min. do 2°t (ARG)
Gols: Götze, aos 7 min. do 2°t da prorrogação

Copa de 2014 - Final: Alemanha 1x0 Argentina


Mário Gotze o herói alemão!

A Alemanha precisou de 113 minutos para chegar ao gol do tetracampeonato. No domingo (13.07.14), Mario Götze foi o herói alemão na final da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no Maracanã, no Rio de Janeiro. O camisa 19 saiu do banco de reservas nos minutos finais do tempo regulamentar e fez história na segunda etapa da prorrogação.

A decisão da Copa no Brasil foi dominada pelos alemães, que repetiram o toque de bola de todo o Mundial contra a Argentina. Mas o time de Messi foi perigoso no contra-ataque, teve boas oportunidades para furar a defesa alemã, mas pecou na finalização.

O castigo veio já nos minutos finais do segundo tempo da prorrogação, quando os pênaltis já pareciam certos. Götze fez papel de centroavante e fez a festa dos alemães no Maracanã. Foi a quarta conquista da Alemanha, que se igualou à Itália e ficou com apenas uma taça a menos que o Brasil.

Seleção da Alemanha comemora Tetracampeonato


Data: 13 de julho de 2014
Horário: 16h00 (de Brasília)
Local: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Capacidade do estádio: 74.738
Público: 74.738
Árbitro: Nicola Rizzoli (ITA)
Assistentes: Renato Faverani (ITA) e Andrea Stefani (ITA)
Cartões amarelos: Schweinsteiger, aos 28 min., 
Höwedes, aos 32 min. do 1°t (ALE); 
Mascherano, aos 18 min., Agüero, aos 20 min. do 2°t (ARG)
Gols: Götze, aos 7 min. do 2°t da prorrogação


domingo, 26 de abril de 2015

Copa de 2010 - Mick Jagger


O Pé gelado Mick Jagger

Mick Jagger foi figurinha carimbada nas arquibancadas, mas a torcida do líder dos Rolling Stones se tornou uma ‘maldição’. Todas as seleções incentivadas pelo cantor perderam (Brasil e Inglaterra foram suas vítimas) e sua fama de ‘secador’ virou hit na internet.

Copa de 2010 - Espanha 0x1 Suíça


Mais que um clube

Todos os gols da campeã Espanha foram marcados por jogadores do Barcelona: Iniesta, Puyol e David Villa (que acertou sua transferência do Valencia ao Barça pouco antes da Copa). A Fúria também foi a primeira campeã a perder seu jogo de estreia: 1 a 0 diante da Suíça



segunda-feira, 14 de abril de 2014

Jogos Eternos - Brasil 4×1 Itália 1970

O Brasil massacra a seleção Italiana, Naquela que seria considerada a melhor Seleção de todos os tempos.


Data: 21 de junho de 1970
O que estava em jogo: o título da Copa do Mundo de 1970 e a posse definitiva da Taça Jules Rimet.
Local: Estádio Azteca, Cidade do México, México.
Juiz: Rudolf Glöckner (ALE)
Público: 107.412 pessoas

Os Times:

Brasil: Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivellino; Jairzinho, Tostão e Pelé. Técnico: Zagallo.

Itália: Albertosi; Burgnich, Rosato, Cera e Facchetti; Bertini (Juliano, 28´do 2º) e De Sisti; Domenghini, Boninsegna (Rivera, 38´do 2º), Mazzola e Riva. Técnico: Ferruccio Valcareggi.

Placar: Brasil 4×1 Itália (Gols: Pelé-BRA, aos 18′,e Boninsegna-ITA, aos 37´do 1º T; Gérson-BRA, aos 21´, Jairzinho-BRA, aos 24´, e Carlos Alberto-BRA, aos 41´do 2º T).



Jairzinho em ação contra o Peru: craque brasileiro marcou gol em todos os jogos da Copa.

“A apoteose da melhor seleção da história”

Depois de passar pelas mãos de capitães de cinco países, resistir a uma II Guerra Mundial, e manter-se intacta por 40 anos, a Taça Jules Rimet ganharia um dono único e eterno ao término do jogo final da Copa do Mundo de 1970, realizado no estádio Azteca, no México, em 21 de junho de 1970. E a seleção guardiã do objeto de 4 kg, sendo 1,8 kg de ouro puro, não poderia ser uma qualquer. Pelo contrário. Ela deveria reunir a mais nobre classe futebolística, total desenvoltura para virar jogos, golear adversários e, claro, já ter vencido duas Copas do Mundo anteriormente. Após 231 jogos em nove países distintos, duas seleções se perfilaram no gramado mexicano com chances de levar a taça para casa: Itália, campeã em 1934 e 1938, e Brasil, campeão em 1958 e 1962. 

Não bastasse a final de 1970 decidir uma Copa, ela decidiria o destino final do troféu. Muitos pensavam que seria o “jogo do século”, embora dias antes ele já tivesse sido disputado, naquela mesma Copa, por italianos e alemães. Muitos também pensavam que haveria equilíbrio, que em Mundiais tudo poderia acontecer e outras velhas máximas. Porém, o que se viu naquele 21 de junho de 1970 foi uma apresentação única, mágica e irresistível. Temperada pelo sol límpido do verão mexicano, a Seleção Brasileira de futebol protagonizou a melhor final da história das Copas. A final dos golaços. A final dos lances soberbos. A final dos toques de classe. A final da dominância absoluta no segundo tempo. A final do gol coletivo mais plástico e lindo que uma Copa já viu. E a final do tricampeonato do time verde, amarelo e azul. 

De Carlos Alberto. De Piazza. De Gérson. De Jairzinho. De Rivellino. De Tostão. E de Pelé. Ah, Pelé, aquele que levitou mais alto do que qualquer ser humano normal e marcou o centésimo gol brasileiro em Copas exatamente naquela final. E que deu o passe perfeito para o chute perfeito no gol perfeito de Carlos Alberto, o que fechou a goleada improvável de 4 a 1 contra um adversário que jamais soube levar mais de dois ou três gols num só jogo, mas sim evitá-los. A Itália era ótima. Mas o Brasil era estupendo. Perfeito. Único. É hora de relembrar a apoteose da melhor seleção de todos os tempos.



Itália e Brasil perfilados fariam aquela que seria uma das mais inesquecíveis Finais em Copas do Mundo.

Muito antes de a Copa do Mundo de 1970 começar, ela já era aclamada como a mais promissora de todas. E as perspectivas se confirmaram quando a bola rolou. As equipes que viajaram ao México levaram craques do mais alto escalão e transformaram o Mundial em um show de estrelas. A Alemanha de Sepp Maier, Beckenbauer e Gerd Müller, a Inglaterra de Gordon Banks, Bobby Moore e Bobby Charlton, o Uruguai de Mazurkiewicz, Ancheta e Cubilla, e o Peru de Chumpitaz, Sotil e Cubillas, foram só algumas das equipes que se juntaram a Brasil e Itália e fizeram do torneio mexicano único. Após jogos memoráveis, Brasil e Itália superaram adversidades, fantasmas e o calor para fazerem a decisão perfeita de uma Copa perfeita. Aliás, uma decisão dupla, pois o campeão ganharia a posse definitiva da Taça Jules Rimet, que seria de posse do país que a vencesse três vezes. No entanto, as duas equipes chegaram ao duelo em condições distintas.

A vitória do Uruguai sobre o Brasil, em 1950, e da Alemanha sobre a favoritíssima Hungria, em 1954, serviam como exemplos para comprovar que nenhuma equipe poderia ser considerada campeã antes do apito final. Embora houvesse respeito em ambos os lados, o Brasil levava o favoritismo e uma grande festa antecipada já tomava conta das ruas do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Salvador e de várias outras cidades. A promessa era de um jogo marcante, repleto de grandes lances e, talvez, poucos gols, graças à fama italiana de defensivismo.



Itália e Alemanha fizeram um duelo sensacional na semifinal de 1970.

O Brasil vinha de uma vitória que lavou a alma do torcedor canarinho: (3x1), sobre o Uruguai, no primeiro encontro entre os dois países desde a fatídica final de 1950, vencida pela Celeste. Antes disso, a equipe do técnico Zagallo destroçou fortes rivais sempre exibindo um futebol vistoso, cheio de brilho e com um ataque devastador formado por jogadores que vestiam a camisa 10 em seus clubes: Rivellino, Jairzinho, Tostão e Pelé. O quarteto, muito bem amparado por Félix, Brito, Piazza, Carlos Alberto, Everaldo, Clodoaldo e Gérson, ajudou o Brasil a marcar 15 gols em apenas cinco jogos. Além disso, aquela seleção esbanjava preparo físico e parecia nem sentir os efeitos que o calor do meio-dia causava aos atletas das outras equipes – principalmente as europeias. Falando nelas, a Itália foi uma das que sentiu de maneira mais intensa os efeitos do calor – e de uma partida épica. 

Após uma primeira fase morna, a Azzurra goleou o anfitrião México e foi embalada para a semifinal, contra a Alemanha. A equipe vencia por (1x0) até os minutos finais quando os alemães “acharam” um gol de empate e levaram o duelo para a prorrogação. Nela, cinco gols marcados, viradas impossíveis e altas doses de dramaticidade fizeram da vitória azul por (4x3) o mais espetacular jogo da história das Copa. No entanto, aquela vitória custou caro ao time de Ferruccio Valcareggi. Os atletas da Itália jogaram 120 minutos intensos e tiveram apenas quatro dias para se recuperar até a decisão contra o Brasil, que estava muito mais inteiro. Se na bola o time europeu já não podia se equiparar aos sul-americanos, com o cansaço ele seria ainda mais frágil. Mas, se tratando de Copas, tudo poderia acontecer, como bem diziam os jornalistas e comentaristas da época.



Pelé o monstro sagrado do futebol marca o 100º Gol do Brasil em Copas do Mundo.

A Itália até deu alguns sustos no começo do jogo com bolas alçadas na área e a presença do estupendo Luigi Riva, mas foi o Brasil que dominou as ações e evitou um gol que colocaria a Azzurra toda no campo de defesa. Aos 18´, Tostão cobrou lateral para Rivellino, e este cruzou do jeito que deu para a grande área da Itália. Burgnich, defensor italiano, foi recuando, certo de que não havia ninguém por perto e que não precisaria saltar tanto para dominar a bola. Mas, logo atrás dele, estava Pelé, que saltou 30 cm mais que Burgnich para cabecear no canto esquerdo do goleiro Albertosi. Gol! Era mais do que um gol. Era o 100º gol do Brasil em Copas do Mundo. E na melhor ocasião possível.

A torcida mexicana explodiu e o gol forçou a Itália a sair de sua defesa e buscar o empate. Embora estivesse à frente do placar, o Brasil demonstrava certo nervosismo, não criava tantas chances de gol e Jairzinho sofria com a marcação implacável de Facchetti. Astuta, a Itália esperava um único erro dos brasileiros para tentar o empate, e cercava os defensores Brito e Piazza a cada saída de bola. Após 20 minutos de domínio brasileiro, mas com poucas chances de gol, eis que surge a oportunidade que tanto os azuis pediam aos céus. Clodoaldo recebeu de Brito, no meio de campo, e decidiu dar de calcanhar, de primeira, para Everaldo. O pensamento era de classe, mas foi de pura imprudência. Boninsegna interceptou o toque do brasileiro e engatilhou aquilo que mais os italianos sabem fazer: contra-atacar. O atacante driblou Piazza, tirou Brito e Félix da jogada, e chutou da meia lua para empatar o jogo: (1x1). Ânimos esfriados do lado brasileiro. 

E esperança viva na Itália! Passava pela cabeça da turma europeia o filme da semifinal, do triunfo épico sobre a Alemanha e da possibilidade de uma vitória bem dramática, também, contra o Brasil. Já os sul-americanos temiam o pior quando Pelé teve um gol anulado pela arbitragem, aos 45 minutos, quando o árbitro alegou já ter apitado o fim do primeiro tempo antes da conclusão do Rei. Faltavam 45 minutos para o primeiro tricampeão mundial ser conhecido. E as apostas, antes pesando mais para o lado brasileiro, ganhavam toques de (momentânea) igualdade.



Gerson manda um Petardo e marca o 2º para o Brasil.

Embora o primeiro tempo tenha terminado bem amargo para os brasileiros, um dado estatístico e verídico trazia tranquilidade para muita gente no país sul-americano. Das cinco vitórias do time antes da final, três haviam sido na etapa complementar. Era o resultado da preparação antecipada e do excelente físico que aquele time ostentava mesmo diante de um calor escaldante pós-meio dia. Já os italianos sentiriam nos últimos 45 minutos da Copa de 1970 o cansaço provocado pela partida semifinal. 

Cada gota de suor valia por duas, e cada corrida em direção à linha de fundo guardaria um longo trajeto de volta ao campo de defesa. Nos primeiros minutos, houve certo equilíbrio com chances de Pelé e Gérson, para o Brasil, e Domenghini, para a Itália, que chutou no contrapé de Félix e quase marcou. Mas, depois de dezenove minutos iguais, o Brasil tratou de encerrar a decisão e fazer dela a sua apoteose do tricampeonato.



O Furacão Jairzinho faz história ao marcar o 3º para a Seleção Brasileira.

Aos 21´, Carlos Alberto lançou Gérson, e este deixou na esquerda. A bola sobrou para Jairzinho, que buscava uma brecha diante da marcação do capitão italiano Facchetti. O brasileiro foi desarmado, mas a bola ficou com Gérson, que passou por um, ajeitou para a perna esquerda e mandou um petardo de fora da área, no cantinho de Albertosi: golaço! A festa brasileira começava a aumentar na mesma proporção que o cansaço dos italianos, que precisavam de pelo menos mais um gol. Mas como fazer um gol e não levar nenhum de um time fantástico e na ponta dos cascos? Apenas três minutos depois, Gérson mostrou como se fazia um lançamento de 50 metros em direção a um companheiro. 

Tal lançamento, iniciado lá no meio de campo, foi de encontro a Pelé. Do jeito que a bola veio, o Rei só escorou de cabeça para Jairzinho, enfim, livre da marcação de Facchetti, tocar com a coxa na bola. Foi o suficiente para a redonda vencer Albertosi e ir entrando, mansinha, mansinha, em direção ao gol. Brasil 3×1 Itália. Era mais um gol do Furacão. E a prova de que a tal teoria de Valcareggi, a de “marcar Jairzinho e pronto”, era uma furada. Aquele Brasil não se marcava. Muito menos se parava com táticas ou ferrolhos. Aquilo era arte pura. Classe pura. Futebol puro. E ainda restavam vinte minutos.




Riva e sua famosa Patada Atômica...

Mesmo com Riva, Domenghini, Mazzola, Boninsegna e, depois, Rivera, a Itália não conseguia criar grandes chances de gol e via o Brasil gastar o tempo e fazer apenas ataques pontuais esperando o tempo passar. Com um toque de bola fascinante e um futebol extremamente moderno para a época, os brasileiros arrancavam “olés”, da torcida e mostravam a cada minuto que eram mesmo os melhores do planeta. Mas ainda faltava um Grand Finale, uma obra de arte daquelas que contagiam qualquer ser humano, que não deixa espaço para críticas e que vira sinônimo de algo bom. Aos 41´, o Brasil iniciou a jogada coletiva mais exuberante que uma Copa do Mundo já viu, e que teve participação direta ou indireta de praticamente metade dos atletas vestidos em verde e amarelo. Palavras não são suficientes para descrever tal maravilha, mas servem como ilustração do que aconteceu naquele momento.



Carlos Alberto recebe de Pelé e chuta para marcar um dos mais belos gols em Copas do Mundo.

Tostão, na esquerda, roubou a bola de um italiano e a deixou com Piazza. O zagueiro tocou para Clodoaldo, que olhou para frente e viu quatro jogadores vestidos de azul no seu caminho. O volante decidiu apagar o toque equivocado do primeiro tempo e quis se redimir com a torcida. Para isso, ele tocou para Pelé, e este para Gérson, até que a bola voltasse para Clodoaldo, que já tinha raciocinado o que iria fazer nos segundos seguintes. Com a bola de novo em seus pés, o camisa 5 driblou um, driblou dois, driblou três, driblou quatro e tocou na esquerda para Rivellino. Em seguida, Clodoaldo apontou para frente e deu a dica para o companheiro: “toca no Jair!”. Rivellino lançou o camisa 7 brasileiro, que foi para o mano a mano com Facchetti, jogador que ele não aguentava mais ver pela frente. Outra vez sem espaços, Jairzinho deixou com Pelé, pouco antes da meia lua. O camisa 10 poderia chutar, passar para Tostão ou devolver para Jairzinho. Mas ele não fez nada disso. Gênios não fazem ou pensam o previsível. Eles criam o inexistente, o impensável, o formidável. 




O Capita Carlos Alberto e Tostão nas redes comemoram o 4º Gol e massacre em cima da Azurra.

 Pelé recebeu e rolou a bola, para a direita, sem olhar. “Para quem ele tocou?”, pensaram os italianos. Para o capitão. O capita. Nada mais justo o homem que levantaria pela última vez a Taça Jules Rimet encerrar o baile canarinho no Azteca. Como um foguete, Carlos Alberto Torres apareceu totalmente livre e, sem ajeitar ou fazer qualquer frescura tão comum no futebol atual, chutou forte, seco, e de maneira indefensável para o gol: (4x1). GOLAÇO. Êxtase no México. Torcedores ensandecidos. Aplausos. Gritos. E total perdição dos italianos. Como podia tudo aquilo? De onde tinha saído aquele Brasil? Não havia explicação. Era um time sensacional.



Após o Apito Final, Italianos no chão e Brasileiros alucinados pela conquista definitiva pela taça Jules Rimet.

Nos minutos seguintes, a Itália ainda tentou marcar pelo menos mais um gol, mas já era tarde. Aos 45´, o árbitro alemão Rudolf Glockner apitou o fim do jogo. E o início de uma festa jamais vista na história das Copas. Milhares de torcedores invadiram o gramado para arrancar as peças de seus artistas (até mesmo o italiano Rosato, que pegou a camisa de Pelé e a leiloou décadas depois por mais de US$ 280 mil!). Tostão quase ficou nu. Rivellino desmaiou. Pelé ficou apenas de calção. E o Brasil se sagrou o primeiro tricampeão mundial de futebol. E o único detentor da Taça Jules Rimet. Carlos Alberto Torres a ergueu das tribunas de honra do estádio Azteca, que ficou pequenino diante da imponência dos artistas brasileiros, mágicos que transformaram a final da Copa do Mundo de 1970 em uma apoteose. Em um carnaval. Em um baile imortal.



O Capita levanta o tão cobiçado troféu. A Jules Rimet ficaria até então em definitivo com a Confederação Brasileira.

A trajetória e o brilho do time de 1970 jamais foram vistos novamente nas Copas seguintes. Várias seleções brilharam, claro, mas nenhuma teve a intensidade, a força e o ímpeto que o time de Carlos Alberto, Clodoaldo, Gérson, Tostão, Jairzinho, Rivellino e Pelé. Sem grandes atuações nas Copas de 1974 e 1978, o Brasil voltou a montar uma seleção estupenda no Mundial de 1982, e deu pinta de que seria tetracampeão com novas doses de arte e magia. No entanto, um adversário que antes trazia alegrias se transformou em fantasma: a Itália. Com um Paolo Rossi inspirado, a Azzurra fez (3x2) no time canarinho e enterrou para sempre o último esquadrão brasileiro que jogou o futebol arte.

Para aumentar ainda mais a fase negra do Brasil, um ano depois, a Taça Jules Rimet foi roubada da sede da CBF, no Rio. Os ladrões a derreteram e acabaram com a aura do troféu conquistado no México, em 1970. Sensibilizada pelo fato, a FIFA presenteou o Brasil com uma réplica idêntica, que segue intacta até hoje. No entanto, aquela velhinha dourada erguida por Carlos Alberto não existe mais. Como não existe mais a arte no futebol brasileiro.



O Rei é carregado pelos mortais que só podiam admirar a sua realeza e agora único Tricampeão do Mundo.

Pelé: A Final da Copa do Mundo de 1970, serviu para consolidar Pelé como o maior jogador de todos os tempos. Embora para alguns mais tarde o compararia com o genial Maradona, mais nenhum jogador até hoje ganhou 3 Copas do Mundo, sendo a primeira com apenas 17 anos anotando 6 gols na Copa de 1958. Além disso, Pelé marcou ao longo de sua carreira gloriosa 1283 Gols, parou uma Guerra e imortalizou sua camisa 10 do Santos FC e Seleção Brasileira. Quando se falar em futebol, um só rei aparece como imortal, os outros porém podem ostentar uma coroa no reino dos mortais do futebol.
(Texto: Marcelo H. Zacarelli)

Itália: a derrota de goleada na final de 1970 doeu muito no orgulho dos italianos, mas foi consenso geral que o Brasil era mesmo muito superior. Nos anos seguintes, a equipe perdeu a força que demonstrou no final dos anos 60 e só foi dar a volta por cima em 1982, na Copa do Mundo da Espanha. Em terras calientes como as mexicanas, o time azul superou escândalos de manipulação de resultados e a total desconfiança para vencer grandes titãs a partir da segunda fase e faturar o tricampeonato. No caminho, a Itália reencontrou um novo Brasil artístico, mas não deu chances para uma nova goleada: Paolo Rossi marcou três gols e deu a vitória épica aos italianos, por (3x2). Ao contrário de 1970, a Itália de 1982 não marcou apenas um homem do Brasil. Ela marcou todos. E venceu.

(Fontes do Site Imortais do Futebol)

domingo, 13 de abril de 2014

Jogos Eternos – Argentina 2×1 Inglaterra 1986

A Rivalidade contra os Ingleses e a Genialidade de Maradona.


Maradona foi o Protagonista de uma Argentina incontestável em seu Bicampeonato Mundial.

Data: 22 de junho de 1986
O que estava em jogo: uma vaga na semifinal da Copa do Mundo da FIFA de 1986.
Local: Estádio Azteca, Cidade do México, México.
Juiz: Ali Bennaceur (TUN)
Público: 114.580 pessoas

Os Times:

Argentina: Pumpido; Cuciuffo, Brown, Ruggeri e Olarticoechea; Batista, Giusti, Enrique e Burruchaga (Tapia 30´do 2º T); Maradona e Valando. Técnico: Carlos Bilardo.

Inglaterra: Shilton; Stevens, Butcher, Sansom e Reid (Waddle 19´do 2º T); Fenwick, Steven (Barnes 29´do 2o T) e Hoddle; Hodge, Lineker e Beardsley . Técnico: Bobby Robson.

Placar: Argentina 2×1 Inglaterra (Gols: Maradona-ARG, aos 6´ e aos 10´, Lineker-ING, aos 36´do 2º T).



No futebol, a rixa começou em 1966 após um conturbado duelo entre os dois países na Copa daquele ano.

Não bastasse a rivalidade histórica entre argentinos e ingleses existir por causa das Malvinas, a rixa entre ambos também era visível no futebol desde 1966, na Copa do Mundo realizada na terra da Rainha. Naquele ano, as duas seleções se enfrentaram num duelo quente pelas quartas de final que terminou com várias faltas duras e a polêmica expulsão do argentino Rattín, que cansou os ouvidos do árbitro alemão Rudolf Kreitlein com palavrões e impropérios e demorou uma barbaridade para sair do gramado por exigir um tradutor em campo, a fim de entender o porquê de sua expulsão. 

Na saída do gramado, o jogador ainda zombou da bandeira inglesa no escanteio e sentou no tapete vermelho exclusivo da Rainha. A partir dali, os ingleses sempre trataram os argentinos como “animais” e “selvagens”, com a recíproca de “racistas” e “ladrões” dos argentinos. Na Copa de 1986, as seleções chegavam às quartas de final em situações opostas. A Argentina vinha de boas partidas e sem sustos na primeira fase com vitórias sobre Coreia do Sul (3x1) e Bulgária (2x0) e empate em (1x1) contra a então campeã Itália. Nas oitavas de final, os alvicelestes bateram o rival Uruguai por (1x0) e se garantiram entre os oito melhores do Mundial.



Os capitães Maradona e Shilton.

Já a Inglaterra começou com o pé esquerdo ao ser derrotada por 1 a 0 para Portugal e empatar sem gols contra o Marrocos. Só na última e decisiva partida da fase de grupos que os ingleses conheceram o sabor da vitória graças ao talento de Gary Lineker, que marcou os três gols do triunfo sobre a Polônia por (3x0). Nas oitavas de final, Lineker foi mais uma vez decisivo e marcou dois gols na vitória por (3x0) sobre o Paraguai. Com o choque confirmado entre argentinos e ingleses, a comissão organizadora da Copa e o governo mexicano trataram de reforçar a segurança do estádio Azteca antes, durante e depois do jogo. Dezenas de militares foram escalados para garantir a proteção dos mais de 110 mil torcedores dentro e fora do estádio. O duelo dominava as manchetes dos jornais argentinos e britânicos há uma semana e a gana pela vitória era maior, claro, do lado sul-americano, afinal, o jogo era o primeiro contra os ingleses desde a fatídica guerra e os nacionalistas viam como oportunidade única a revanche diante dos europeus. Por tudo isso, é de se imaginar o estado de espírito que a Argentina entrou em campo. Principalmente o craque do time: Maradona.



Já no 1º Tempo Maradona mostra que
 é ele quem manda em campo nas bolas paradas.

Com os times perfilados em campo para a execução dos hinos, era visível a concentração do camisa 10 e seu olhar de repulsa aos ingleses. O baixinho levava consigo a necessidade e o fervor de derrotar aqueles “branquelos” e continuar seu projeto de ser campeão do mundo e mostrar de uma vez por todas que ele era o melhor jogador do planeta na época. Só uma atuação de gala e uma vitória poderiam ajudar Maradona em tudo aquilo. E ele estava mais do que pronto para a partida de sua vida.



Para impedir Maradona de avançar em direção ao gol, só com falta.

Embora o clima fosse de tensão e também de beleza pelo público contagiante no ensolarado Azteca, os jogadores começaram a partida sem faltas ríspidas ou provocações, com a Argentina mantendo a posse de bola e dominando as ações iniciais. Maradona iniciou suas jogadas de efeito e velocidade aos nove minutos, quando passou por dois marcadores e só não passou pelo terceiro, Fenwick, porque este fez falta e foi advertido com um cartão amarelo logo de cara. Nos minutos seguintes, Beardsley teve duas chances para marcar, mas Pumpido se saiu bem em ambas. Aos poucos, o craque e capitão argentino mostrava seu talento fora de série ao construir jogadas mesmo sendo marcado sempre por dois ingleses. Rápido, esguio e no auge da forma, Maradona era um virtuose com a bola nos pés e só era impedido de alcançar seus objetivos com faltas, que começaram a pipocar perto da área inglesa. E foi em uma cobrança de falta que o camisa 10 quase abriu o placar, mas a bola passou rente a trave esquerda de Shilton. 

Sedento pelo gol e pelo protagonismo da partida, Maradona ainda chamou a atenção de todos por causa de um desentendimento com o bandeirinha em uma cobrança de escanteio, aos 34´. Antes de partir para o chute, o argentino tirou a bandeirinha do buraco e foi repreendido pelo bandeira costarriquenho. Maradona foi obrigado a colocar o mastro no lugar e o fez. No entanto, faltava a flâmula, que continuava caída no chão. Após nova bronca, o camisa 10 pegou o pano e o colocou do jeito que deu no mastro. Resolvido o “problema”, o jogo seguiu, a tal cobrança não levou perigo aos ingleses e o primeiro tempo terminou mesmo sem gols. Mas ainda restavam 45 minutos.



Segundo tempo – A mão e a obra-prima. Contra imagens não há argumentos: la mano en su trabajo.

Se durante 45 minutos a Argentina não conseguiu balançar as redes inglesas, foram necessários apenas dez minutos para que o placar do estádio Azteca mostrasse 2 a 0 para os alvicelestes. Mas os números eram apenas simbólicos pelo que o público – e o mundo – tinha acabado de ver. Aos seis minutos, Maradona recebeu na esquerda, passou pelo primeiro, se enfiou no meio de dois e deixou na entrada da área para Valdano. O atacante tentou a devolução, mas o inglês Fenwick interceptou e chutou a bola para o alto. No entanto, a redonda foi ao encontro do goleiro Shilton, grandalhão, que viu a chegada de Maradona. 

Com, 1,83m, o camisa 1 nem pulou muito diante dos 1,65m de Maradona. Mas o argentino usou de um artifício bem peculiar para empurrar a bola para dentro do gol: o punho fechado e forte que socou a bola de uma maneira única que não deixou o árbitro tunisiano Ali Bennaceur, quatro metros fora da área, perceber o truque. Maradona saiu comemorando timidamente e de olho no juiz. 



O delírio de Maradona e o nada amigável público inglês ao fundo.

Ele percebeu que ninguém de seu time veio ao seu encontro e chamou os colegas: “Vamos, me abracem, ou o árbitro não vai validar o gol!”. De nada adiantou a reclamação dos ingleses. Nem os berros e pulos de Shilton. Era gol. O gol com um pouco da cabeça de Maradona e outro pouco com “La mano de Dios”, como ficou amplamente conhecido aquele tento argentino. Indo de volta para seu campo, o camisa 10 erguia com orgulho a mão fechada que havia acabado de fazer história.



Maradona arranca...

Os ânimos ingleses ficaram mais exaltados após o polêmico gol e a partida tinha tudo para ficar emocionante. Mas Maradona não iria deixar os ingleses gostarem do jogo ou marcar um gol de empate. Ele precisava marcar mais um para não deixar dúvidas naquele público que olhava para ele meio ressabiado como quem diz “pô, de mão até eu faço!”. Com pouco mais de nove minutos do segundo tempo, o camisa 10 iniciou o lance que não teria ajudinha divina alguma. 



Dribla meio time da Inglaterra...

Apenas o talento e genialidade do baixinho. Ainda uns cinco metros dentro do campo argentino, Maradona deu um rápido giro de corpo e se livrou de uma só vez de Reid e Beardsley. Com um ligeiro toque, a bola correu e Maradona foi atrás como um foguete em direção à área inglesa. No meio do caminho, Butcher foi despistado com facilidade, Fenwick ficou para trás com um corte cruel e o argentino chegou à área inglesa. Nela, Shilton foi driblado, Fenwick ainda tentou um carrinho, mas Maradona tocou para o gol antes de ser derrubado. 



E faz aquele que seria o Gol Antológico de todas as Copas...

Gol. Golaço. Obra de arte. Fascínio puro pela arte.  Em apenas 10 segundos, Maradona percorreu 60 metros e construiu seu mais belo e estupendo gol. Mas os 10 segundos pareceram bem menos de tão exuberante que foi a jogada. O relógio deveria parar. O público deveria pagar ingresso novamente. Os ingleses deveriam aplaudir. Era o gol da Copa. E das Copas. Ninguém, sozinho, jamais havia feito semelhante beleza. Nem Pelé. Nem Gerd Müller. Nem Cruyff. Nem Garrincha. O gol do século das Copas era de Diego Armando Maradona.





O fato é que a batalha futebolística de 22 de junho de 1986 foi vencida pelos sul-americanos, que fizeram justiça com os próprios pés, uma mão divina e um Dios dentro de campo: Maradona, eterno como aquele jogo.

Com (2x0) no placar, a Argentina passou a jogar com mais precaução na defesa e a Inglaterra dominou as ações ofensivas. Na base do chuveirinho, bolas e mais bolas eram alçadas na área portenha, mas Pumpido ou os zagueiros sempre cortavam. Hoddle cobrou uma falta perigosa que exigiu ótima defesa do goleiro argentino. Aos 31´, o técnico Bobby Robson colocou a Inglaterra totalmente no ataque ao trocar Steven pelo jovem e habilidoso Barnes. 

O ponta rapidamente mostrou a que veio e, aos 36´, fez uma boa jogada pela esquerda e cruzou na medida para Lineker diminuir a desvantagem e anotar seu sexto gol na Copa, além de aparecer pela primeira vez no jogo depois de ser marcado de maneira implacável e impecável pela zaga argentina. Faltavam quase dez minutos para o fim do jogo e era hora do tudo ou nada. Logo na saída de bola, Maradona tratou de aparecer de novo ao entortar mais alguns ingleses com seus toques rápidos e deixar Tapia com uma ótima oportunidade para marcar. No chute, o atacante acertou a trave direita de Shilton e por pouco não ampliou para (3x1). 

No finalzinho, Barnes, sempre pela esquerda, tentou repetir a jogada do primeiro gol e cruzou na medida para Lineker, que só não marcou o gol de empate porque Brown cortou milésimos de segundos antes da chegada do camisa 10 inglês. Aquela seria a última chance inglesa. Com o apito final do árbitro, a Argentina estava classificada. E vingada, na bola, do desastre bélico de quatro anos atrás. Em entrevista ao The Guardian, em 2002, o célebre jogador argentino Roberto Perfumo definiu bem a razão de vencer a Inglaterra para os argentinos:

“Em 1986, vencer aquele jogo contra a Inglaterra era o suficiente. Vencer a Copa do Mundo era secundário para nós. Bater a Inglaterra era nosso verdadeiro objetivo”. – Roberto Perfumo, em entrevista ao The Guardian, maio de 2002."

(Fontes do Site Imortais do Futebol)